quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Beijos envenenados

Pedi-te que ficasses só mais um pouco, que me amasses só mais um pouco, que me beijasses e abraçasses só mais um pouco, só não sabia que me matavas aos poucos. Foste como que um suícidio lento e silencioso. Deste-me o prazer de ficares junto a mim quando te pedi, e até quando nao te pedi, e permitiste que os meus braços se enrolassem nos teus, e os teus nos meus, e os nossos lábios se tocassem. Não sei se me amaste, como eu te amei. Não sei se ignoravas o que eu ignorava, mas sorrias. Acariciava-te as mãos, discutíamos proporções de corpos, de dedos e de lábios, mas nunca nos ocorreu discutir as proporções a que haviamos chegado. Contava-te ao ouvido, baixinho, histórias de libelinhas e borboletas, mas na realidade a nossa história era mais a versão invertida da abelha e do zangão. Quando a luz das pressianas iluminou os nossos rostos adormecidos, só tu acordaste. O tempo passou depressa demais para mim, e só no teu relógio o tempo teimava em nao passar. Acordaste, levantaste-te e saíste. Eu senti-te a acordar, a levantar e a ires embora, mas nas minhas veias já não corria sangue. Corria o veneno dos teus lábios carregados de cicuta. Eu sentia não ainda o quente do teu corpo no meu, mas o ardor letal a percorrer-me. Sentia a incapacidade de me erguer e deter-te, já que não fosse para que me matasses de vez. E pior, senti-me sozinha, silenciosamente sozinha, à espera do antídoto que para o teu veneno ainda não foi encontrado.

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